Amácio Mazzaropi (Foto), mais conhecido como Jeca Tatu, nasceu em São Paulo em 1912, e morreu em 1981, filho de imigrante italiano, comediante de alma caipira, inesquecível personagem da cultura brasileira,simples, porém, astuto, manhoso, valente quando necessário, e honesto.
Falava a língua do povo. Jeca Tatu é um personagem criado por Monteiro Lobato em seu livro Urupês, baseado no trabalhador rural, simbolizando a situação do caboclo brasileiro, abandonado pelos poderes públicos às doenças como a ancilostomose, o amarelão.
Jeca Tatu morava no mato, numa casinha de sapé, cujo telhado era coberto de folhas secas. Vivia na pobreza, com sua mulher e vários filhos pálidos e tristes. Bebia muita pinga. Passava o dia de cócoras agachado, pitando um cigarro de palha. Tudo para ele não valia a pena. Sua família não tinha bons hábitos de higiene. Andavam descalços, tinham vermes. A figura do Jeca Tatu era o contrário da visão romântica do homem do campo: tinha barba rala, calcanhares rachados, um banquinho de três pernas e uma espingardinha de carregar pela boca, e só, nada mais. Nadica de nada.
Na verdade, a vida do Jeca Tatu mostrava as questões sociais, dentre elas a precariedade da população, principalmente a rural, exigindo redefinição das ações do governo na área da saúde pública, por exemplo.
Falar de Mazzaropi não é brega nem chique. É, simplesmente, falar de um caboclo, bastante natural, na roupa, no andar, no falar, como milhões que vivem no interior brasileiro. Contava histórias que abordavam questões sociais como reforma agrária, conflito no campo e política. No ano de 1.959, no filme Jeca Tatu, Mazzaropi é um roceiro que têm sua pequena propriedade ameaçada pela ganância de um latifundiário. As terras de Jeca Tatu foram hipotecadas, por dívida.
Vítima de uma rede de intrigas, ele é preso sem direito, sequer, a habeas corpus. Ao som da música “fogo no rancho”, sua casa de pau a pique é incendiada.
Depois de um bom tempo, libertado da prisão, sem dinheiro, Jeca Tatu vende o resto de suas terras para o seu vizinho, um fazendeiro latifundiário, decidindo partir, dali, com a família. Porém, um coronel metido em política prontifica-se em arrumar a vida do caipira no local, pedindo, porém, que Jeca Tatu lhe desse uma lista de eleitores para um político da região que pretendia fazer-se conhecido politicamente, no meio rural, para ser candidato, em troca de umas “terrinhas” e prosperidade, ou seja, através do toma lá, dá cá (um tipo de vantagem proibida pela legislação eleitoral e que configura compra de voto).
Dois anos depois, em 1961, chega às salas de cinema, o filme “Tristeza do Jeca”, que mostra que as terrinhas e prosperidade prometidas pelo “coronel-político”, eram falsas promessas, ou seja: Jeca Tatu foi enganado, dançou...
Agora, Jeca Tatu está triste e, na condição de “sem terra”, “sem teto”, “sem lenço e sem documento”, foi morar na fazenda de um outro coronel-político-candidato, junto com sua família e outros colonos e, mais uma vez, com o aproximar das eleições, os políticos voltaram a disputar a simpatia do Jeca Tatu que era um líder entre os colonos, como uma liderança num bairro, pedindo-lhe para ensinar-lhes a psicologia do homem do campo. Um rodeio é organizado para fins políticos e Jeca comparece com seus amigos.
A reunião-rodeio, como era de se esperar, virou um comício onde Jeca Tatu declarou apoio, em voz alta, ao candidato-coronel Policarpo, justamente inimigo político do coronel Felinto, proprietário da fazenda onde Jeca Tatu morava. Conclusão: as eleições ocorrem num clima de suborno. Os cabos eleitorais de ambos os partidos compraram votos. O Partido do patrão de Jeca Tatu perde e, com a derrota, as conseqüências: enraivecido o perdedor, coronel Felinto, expulsa todos os trabalhadores de suas casas., que ficaram a "ver navios"...
Neste filme, Jeca Tatu que foi considerado preguiçoso, pessoa que não se adequava à civilização, responsável pelos problemas da agricultura, denunciou a compra de votos, esperando um processo eleitoral limpo e justo. Neste momento, Jeca Tatu foi cidadão e mostrou que voto não tem preço. Muito pelo contrário: tem conseqüências...
Acredito que Jeca Tatu não era assim como nos foi apresentado por Monteiro Lobato. Jeca, como a “geração Jeca Tatu”, estava assim. Estar é diferente se ser! Jeca Tatu, sua mulher e filhos, precisavam, apenas e tão somente, da oportunidade de acesso a políticas públicas de saúde, moradia, saneamento básico, educação, transporte, segurança, emprego, reforma agrária e políticas públicas para a mulher, como queremos, para todos! O resto, como diria o próprio Jeca Tatu, é conversa mole pra boi dormir...
Autor: Carlos Eduardo Bruno Marietto (Advogado)
Autor: Carlos Eduardo Bruno Marietto (Advogado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário